terça-feira, 7 de agosto de 2018


A novela do pinga-pinga do ar condicionado (Split)
Essa gambiarra merece um textão:


Noite de inverno, o inverno de 2018 em Porto Alegre; faz frio desde maio e não é pouco frio. Frio, chuva, umidade, vento gelado. O interfone toca, o vizinho de baixo reclama o ruído do pinga-pinga do nosso ar condicionado. Abro a janela, olho e vejo com a lanterna do celular uma cachoeira urbana, artificialmente incômoda, um problema que não posso deixar afetar o vizinho inocente. O problema é meu, é nosso. Enfim, desligo o ar condicionado e suportamos (eu e a Gata) o frio até ir dormir: amanhã é dia de gambiarra.
Dia cinza, mas a luz do sol entrenuvens permite a análise, o diagnóstico. Pinga sim, mas da onde? Vejo a mangueira que desce do aparelho interno, outra mangueira que sai do externo. A mangueira da parte interna desce pela mangueira, passa pelo joelho, atravessa o caso de PVC e permite que a água caia longe do aparelho de ar condicionado do vizinho de baixo. O problema persiste na mangueira que sai da aparelho externo, tento aproximar a mangueira da parede externa do prédio para escorrer, mas cai ainda no aparelho do vizinho. E não sai água dessa mangueira. A água escorre do meio do aparelho, não consigo ver da onde exatamente. Não tem jeito, vou ter que chamar um técnico.
Não tem jeito, levo dias para tomar a atitude de chamar um técnico, abrir mão do meu orgulho gambiarrista. Alguns dias depois, peço orçamento pela internet de empresas especializadas. Demora. Vou ver se o técnico vizinho está atendendo, faz tempo que sua loja se transformou em brechó de roupas baratas. Vou no brechó, pergunto do técnico, acho que é marido da mulher que me atendeu. É o Juarez, o cara, the Dud. A mulher me dá um número de telefone, do Juarez, mando mensagem de whatsapp e nada. Dois dias e nada.
Apelo e falo com o zelador, a dica é o Juarez. Dessa vez, o zelador vai caminhando até ele, chama e ele vem. O telefone dele está ruim. O Juarez chega no apartamento, se dirige à janela sem olhar a decoração interior da nossa casa. Pede para eu ligar o ar, começa a pingar e ele não entende por que a água, o suco de gente, não sai pela mangueira.
O Juarez pede se tenho ferramentas, ele não trouxe uma chave de fenda sequer. Tenho, claro que tenho, sou gambiarrista. Uma chave philipis abriu a tampa superior do aparelho externo, o Juarez foi me explicando como fazia para abrir. É como um caixa de metal com uma máquina dentro. A caixa estava cheia de água no fundo, saía por um buraco sem razão, localizado no lado oposto ao encaixe da mangueira. Um buraco no metal, sem razão de ser.
Começam as gambiarras: um pedaço de borracha enrolada deve tampar, recorta um pouco mais, e um pouco mais, tenta, tenta e nada. Não funcionou a ideia dos dois.
Pensamos, então, que tampar este buraco pouco importa. O problema é a mangueira, deve estar entupida. Deve ser isso. Muito tempo sem mexer no escoamento, deve ter criado um bioma próprio.
(Nesse processo aprendi com o Juarez que a mangueira que sai do aparelho interno escoa a água proveniente de dias quentes, quando o ar condicionado retira calor de dentro para por lá fora. A água que sai no inverno vem do aparelho externo. Por isso, esse problema apareceu em junho, no inverno. Dã).
A mangueira está entupida sim, serto, e aí, como desentupir?
Procuro um arame flexível, um fio de luz... nada. Procuro no canto das tralhas e encontro uma capa de cabo de freio de bicicleta, nova, mas perfeita para esta função. Foi colocar a capa adentro e tirar, que a água começou a escorrer.
O diagnóstico do Juarez estava correto. E agora, como encaminhar esta água para longe do ar do vizinho de baixo?
Nosso técnico inventou uma solução, um conector de três pontas nas direções (XYZ da geometria analítica). Era só comprar e instalar, eu mesmo poderia fazer, disse o Juarez. Ele já ia indo quando perguntei o preço da consultoria: nada, não. Insisti que sua meia hora fosse valorizada, paguei vinte reais e ele saiu feliz dizendo que tomaria “uma cerveja em minha homenagem”.
Desço e vou na ferragem do outro lado da rua. O tal conector não existe, o único de três pontas tem o formato de um “T”. Com o vendedor da ferragem, pensamos uma alternativa, uma boa e engenhosa gambiarra: um “T” ligado a um joelho por um pedaço de mangueira.
Chego em casa e começo a montagem. Primeiro problema: não cabem os dois braços no espaço no canto da janela onde está localizado o aparelho externo. Se chegar ao ponto da manutenção com o outro braço (o direito) será ao custo de uma das pernas no ar, ou as duas. Ou seja, inviável na altura do 13º andar.
Retirar as peças instaladas foi fácil, mas engatar a mangueira no conector com um braço só foi desafiador. Tento utilizar uma caneca com água fervente para amolecer  a mangueira e depois de uma meia hora tentando, desisto, pois a mangueira não tinha firmeza alguma e começava a deformar quando eu fazia pressão com o conector. Pensar em outra estratégia...
No chão da sala vejo que materiais estão à disposição, tento encontrar em um jogo de tentativas alguma solução. Um cano de PVC de rede hidráulica entra justo no conector, perfeito, mas seu diâmetro externo deixa a mangueira folgada. De qualquer modo, será possível encaixar com um braço só. O jeito é apelar para um silicone.
Encaixo tudo que posso no chão da sala e começo com um braço a juntar as peças. O silicone preenchendo a folga entre o cano e a mangueira deveria vedar. Mas não vedou: seguia pingando, escorrendo por essa brecha até o ponto mais baixo da mangueira, até o aparelho do vizinho de baixo.
Já era noite, não enxergava nada sem lanterna, melhor deixar par ao dia seguinte.
Mais silicone, esperar secar, mais um teste.
Mais silicone, esperar secar, mais um teste.
Mais silicone, esperar secar, mais um teste.
Mais silicone, esperar secar, mais um teste.
Mais silicone, esperar secar, mais um teste.


Retiro todo o silicone, já é o quinto dia tentando solucionar o problema. A gambiarra não está respondendo bem. Preocupação. Retiro toda a massa de silicone, refaço a vedação com cuidado para não ficar nenhum furo. Mas não vedou, seguia pingando...
Sexto dia de obra, estou intrigado, ligo o ar e procuro entender por onde vaza. Descubro, enfim, que é no encaixe do cano de PVC com o conector que vazava. Lembram que falei que o encaixe foi perfeito. Perfeito não existe.
Nesse encaixe, por ser justo, o silicone não era a melhor opção. Fiz uso da velha cola Durepoxi, infalível. Duas horas depois o teste - somente pingando na extremidade do cano, longe do aparelho de ar do vizinho e, melhor, escorrendo pela parede.
No sétimo dia, descansei na sala com ar quente.

sábado, 2 de dezembro de 2017

A bicináutica













Minha bicináutica tá quase pronta para o primeiro teste no Guaíba. Falta ainda instalar o Leme e levá-la da Lomba do Pinheiro até Itapuã.
O projeto começou na montagem do rio Guaíba à uma estrutura de bicicleta. Um devir-criança me alegra na construção desse brinquedo.
Dois canos de PVC garantem a estabilidade na superfície, uma caixa de engrenagens de lixadeira liga a força do pedivela a uma hélice de ventilador.
Contei inicialmente com a parceira da galera da oficina de bikes da Ocupação Pandorga para montar a parte mecânica. No último sábado, acabei de montar a balsa e a hélice (o que não não está registrado nessas fotos do processo de montagem).




terça-feira, 10 de junho de 2014

sexta-feira, 6 de junho de 2014



Pintura de paredes é questão de capricho, pintei esta parede cor de açaí e o lavabo tomando cuidado com os cantos e detalhes estéticos. Também nesta obra troquei os spots (lâmpadas embutidas no gesso) do teto. 

sábado, 29 de março de 2014

Psicologia e gambiarras

O que pode um gambiarrista?


      Na vida, em tudo que podemos compreender nela, em seu constante movimento, em suas altas e baixas, em suas larguras e superfícies, uma coisas nos é certa - AS COISAS MAIS IMPORTANTES DA VIDA NÃO SÃO COISAS. Com a noção de vida como uma obra inacabada, um acontecimento entre outros acontecimentos, nada pronto, nada certo, nada errado, tudo errante e tudo nada, onde pouco se escolhe ou decidimos enquanto indivíduos, enquanto pessoas, enquanto multidão, vida vibrátil, vida-rio, vida-vento, instante e eternidade, aqui e agora - seria SIM a vida gostosa e divertida que queremos e afirmamos.


      Com a experiência da redução de danos, na saúde pública, tivemos um aprendizado importante que serve-nos de teoria pra além do específico, levamo-no pra vida, que entre o IDEAL (vida que idealizamos) e o REAL (vida vivida como realidade) temos os POSSÍVEIS (intencionalmente no plural, são as possibilidades de existir, de resistir - as possíveis rexistências). Entre o céu e a terra temos a criação, seja o que isso for, temos neste espaço do "entre" inúmeras possibilidades, podemos dizer até infinidades. É de certo que entre o Zero e o Um, entre o Sim e o Não, entre Um e Outro há um intervalo inúmeras possibilidades, um espaço para o exercício da inventividade. Você tem um problema? Não, você tem uma oportunidade para o exercício da inventividade.

      A ciência busca encontrar na vida algum elemento fixo, uma lei, uma regra, um elemento primordial, atômico - sabemos que mesmo no estudo dos átomos a instabilidade é a regra. Não há estabilidade na vida que permita alguma qualificação da vida como permanente, estática, imutável! Sendo assim, se alguém for estudar a vida e quiser a-prender algo dela, desenhar o esboço do que quer que seja com lápis, que tenha uma borracha bem à mão. O mapa tenderá, por sua fluidez, a uma cartografia: um esboço PROVISÓRIO que será feito no próprio processo de viver na vida. O homem que atravessa o rio não é mesmo quando chega a outra margem; e nem o rio é o mesmo. A casa que tem sua parede pintada já não é mais a mesma e nem o pintor e nem seu morador serão mais os mesmos. O que nos valerá como conhecimento será sempre provisório mesmo nas questões mais humanas, nas perguntas mais simples (e por isso mais difíceis), quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Nossos projetos de vida, nossos ideiais, o sentido, a direção, tudo muda, tudo será provisório – por que então pensar “pra sempre”?


       Nesta linha de pensamento, a vida como possibilidade, a vida como provisória, um problema ou questão que exige alguma solução possível e sem necessidade de destruir e recomeçar tudo desde o início, entende-se assim a vida como GAMBIARRA. A vida quando está problemática, quando sentimos nosso ser e nossos devires presos a limitações mortíferas, enclausuramentos que impedem a expansão da vida, muros erguidos pelos outros e por nós mesmos – é hora de improvisação, de enjambração, gambiarra. Como poderia ser diferente? Como mudar a nossa vida radicalmente (desde a raiz)? Não podemos mudar tudo como na reforma de uma casa, que depois de demolida refazemos todos os alicerces e paredes. Não podemos alcançar o ideal de uma casa nova da mesma forma que não alcançaremos um vida nova – só gambiarras, só provisoriedades que melhorem o próprio caminhar, a nosso modo de viver a vida, o nosso aqui e agora, real e vivo.

        O Gambiarrista funciona como o psicólogo que acompanha os processos de uma vida, uma ocupação no espaço-tempo, processos de uma morada, de uma casa sempre em processos de construção e desconstrução. Instalar uma rede na varanda não muda a vida de ninguém se nunca for possível parar pra escutar o cantar dos pássaros ao amanhecer, ou simplesmente, parar. Mudar a pia da cozinha de lugar não muda a vida de ninguém se a comida sempre é comprada pronta. Colocar um potenciômetro na lâmpada do quarto não cria nenhum 'clima' se nunca nos propomos a uma noite diferente. Então, é nessas minúcias, nesses detalhes, nessas mudanças provisórias na casa e na vida que alguma mudança pode acontecer. E como dizia Raul Seixas, “É preciso você tentar, talvez alguma coisa muito nova possa lhe acontecer”. 

sexta-feira, 28 de março de 2014

Primeiras considerações entre a psicologia e as gambiarras

Na vida, em tudo que podemos compreender na vida, em seu constante movimento, em sua meta estabilidade, em suas altas e baixas, em seus largos e rasos, em suas latitudes e envergaduras, uma coisas nos é certa - AS COISAS MAIS IMPORTANTES DA VIDA NÃO SÃO COISAS.
Assim e agora, pensando a vida como uma obra inacabada, um acontecimento entre outros acontecimentos, nada pronto, nada certo, nada errado, tudo errante e tudo nada, onde pouco se escolhe ou decidimos enquanto indivíduos, enquanto pessoas, enquanto multidão, vida vibrátil, vida-rio, vida-vento, vida fumegante, momento e ciclo, instante e eternidade, profana e divina, aqui e agora - seria SIM a vida gostosa e divertida que queremos e afirmamos.


Com a experiência da redução de danos, na saúde pública, tivemos um aprendizado importante que serve-nos de teoria pra além do específico, levamo-nos pra vida, que entre o IDEAL (vida que idealizamos) e o REAL (vida vivida como realidade) temos os POSSÍVEIS (intencionalmente no plural, são as possibilidades de existir, de resistir - as possíveis rexistências). Entre o céu e a terra temos a criação, seja o que isso for, temos neste espaço do "entre" inúmeras possibilidades, podemos dizer até de infinidades, mas é de certo que entre o Zero e o Um, entre o Sim e o Não, entre Um e Outro há um intervalo de possibilidades, um espaço para o exercício da inventividade. Você tem um problema? Não, uma oportunidade para o exercício da inventividade.

provisória

Nesta linha de pensamento, pensando a vida como possibilidade, como provisória, quando soa como problema ou questão, soa aos ouvidos como dissonante, como chamando novidade, é neste ponto da linha que podemos entende-la como GAMBIARRA. A vida quando está problemática, quando sentimos nosso ser e nossos devires presos a limitações mortíferas, enclausuramentos